É comum ouvir um viajante antes de iniciar sua aventura, dizer que não se importara com os obstáculos no caminho, que não há problemas se o país é mais pobre, que se adaptara as situações.
Antes de iniciar minha "grande aventura" pela América Latina, tentei concentrar minhas energias, em manter a mente sempre aberta as oportunidades e não dar espaço ao medo e ao mau humor. Porem quando se chega ao outro lado da realidade, o choque causado pode acabar com seus planos. Não me orgulho de confessar isso, mas fui uma bela reclamona durante a viagem e pobrezinho dos meus colegas que me aguentaram. Para uma primeira experiencia, passar pelo frio, pela falta de dinheiro (terminais de banco engolindo cartões), pela fome (condições precárias de higiene e consequentemente muita intoxicação alimentar), pela doença ( uma puta infecção de garganta e nenhum antibiótico), pelo medo (quando tudo dava errado) e outras sensações não rotineiras do nosso dia-a-dia, foi ate justificável o desconforto que senti. Hoje olho para trás e tenho outra visão, outra perspectiva, e seria uma nova experiencia repetir o roteiro, sem preconceitos e sem "frescura". Percebi que a gente se prepara tanto para uma longa viagem e não percebe que a maior mudança começa dentro de nós, em nosso próprio habitat. Você não precisa viajar para fora, para um país pobre, ou se preparar para os "perrengues" para ser simples. Passamos por situações muito amenas e complicamos tudo. Em nossa cidade, conhecemos todos os lugares, muitas pessoas e mesmo tendo nosso meio de transporte, resmungamos pelo congestionamento, enquanto que no mochilão não se conhece nada, se depende de ônibus e ainda carrega-se uma mochila de 20 kg nas costas (e se faz isso com um sorriso na cara), temos vários meios de conseguir dinheiro (banco, parente, amigo, cheque especial) enquanto que no mochilão, se uma maquina engole o seu cartão fudeu tudo, temos facilidade em conseguir remédios, enquanto que em poucos países ha sistema publico de saúde e os medicamentos somente são vendidos com receita, aqui temos nosso guarda-roupas cheio de roupas, comida fácil e da qual gostamos, e em uma viagem nada disso é facilmente acessível. Reclamamos por tão pouco tendo tudo, e quando viajamos, tentamos não reclamar por nada, vivendo do minimo. Deve ser porque a verdadeira mudança não comece na viagem, mas em sua casa. De nada adianta retornar da viagem e tudo voltar a ser como era, mas na próxima viagem, se preparar de novo para ser simplista.
Abaixo segue algumas fotos de bons "perrengues" da viagem. E porque bons? Porque são nos momentos difíceis que percebemos que somos capazes de ir alem de nossos preconceitos, medos e perspectivas.
"Quando se tem fome, qualquer comida pode ser transformar em um excelente banquete"
Como ja dizia Raimundos "Money que é good nois num have", então o jeito é se virar com o que tem: um saco de pão de forma, dois patês de carne de cerdo (porco, blah!), um suquito de garrafa, pet cortada ao meio como improviso de copo e 1 litro de água, toda nossa comida para os 3 dias presos em Calama, com direito a uma pernoite na rua.
"Perigoso é não se arriscar"
Quando cheguei na estrada da morte, ao mesmo tempo que aquela vista surpreendente roubava toda minha atenção, o desconhecido fazia o medo tomar conta de mim. Não só pela sua história, mas também pelas suas acentuadas curvas!! Depois de descer os 65 km de bike percebi que perigoso era deixar dominar-se pelo medo e perder esta paisagem maravilhosa.
"Um sedentário também pode mochilar"
Antes de começar o mochilão, inúmeras pessoas questionavam como eu iria subir Waynapicchu sem nenhum preparo físico e minha resposta era, com força de vontade. Ali estava eu a 2.720 metros de altitude. Não apenas subi, como também fiz a trilha de ida e volta da hidrelétrica a Águas Callientes (uns 20 km por trecho) e voltei a pé da entrada do parque até a cidade (6 km de puro barranco). Nada que uma overdose de dorflex não resolva.
"Go to from hell"
Atacama from hell. Não no sentido literal de pagar os pecados, de lugar ruim, mas de quente pra caralho mesmo. Eu achava que o calor era incomodo e o frio doloroso, até conhecer este deserto. La descobri que o corpo pode sofrer mais com o calor do que com o frio. E por incrivel que pareça, enfrentei até -5°C na viagem e fui dar uma infecção de garganta nos 50°C do Atacama. A variação de temperatura do dia pra noite era uma coisa de louco, parecia que de dia estava em uma sauna e de noite mergulhando em lago congelado. Meus antibióticos haviam acabado e eu estava destruída, com dores no corpo, febre, peito cheio e quem aliviou um pouco meu sofrimento foi o dono do hostel que fiquei hospedada, me doando uma cartela de anti-inflamatório. As vezes a ajuda vem de quem menos se espera.
"Algumas pessoas tem medo de altura, outras dor de cabeça e dor de barriga"
A Bolívia parece uma montanha russa, mas sem descida. Você sobe, sobe e sobe e quando vê, esta na cidade mais alta do mundo, Potosi. As dificuldades enfrentadas pela altitude, ja foram aparecendo assim que chegamos em La Paz, muita dor de cabeça, falta de ar e para alguns amigos, até dor de barriga. Para isso nos foi apresentado a folha de coca, que para a ignorância de alguns é uma droga liberada no país (de droga e de onda não tem nada hehehe).